ESTAMOS EMPREGANDO NOSSOS RECURSOS DE SEGURANÇA DA FORMA CORRETA?

Publicado em 12 de May de 2020 por Comunicação CCI

Confesso que não me lembrava deste incidente que vitimou fatalmente Keith Palmer, agente da Policia Metropolitana de Londres.

Para situar a conversar, em 22 de março de 2017, Keith foi colocado para guardar a entrada principal de veículos do Palácio de Westminster, a “Carriage Gates”, porém, desarmado. Como todos sabem, é prática da policia londrina (e de outros lugares) empregarem policiais desarmados para patrulharem as vias públicas e manter uma força de resposta armada. Ocorreu que neste dia, o palácio foi vítima de um ataque terrorista e Keith, cumprindo o seu papel de guardião, enfrentou o terrorista e foi morto, esfaqueado, por Khalid Massod, que logo após foi morto a tiros por outros policiais. O artigo critica o fato da policia metropolitana ter colocado o policial, desarmado, contando apenas com um cassetete e um spray de pimenta, para guardar a entrada principal de veículos, do símbolo de poder inglês. E concordo com o artigo. Porém, não quero e não vou abordar esta tragédia.

Neste meu artigo, quero abordar o antes do ataque terrorista. Mostrando que não adianta ter os recursos, identificar as fraquezas, conhecer as ameaças e não fazer nada.

O Daily Mail teve acesso a relatórios que mostram que em 2016 (6 meses antes do ataque), o CO19 (esquadrão de armas de fogo da polícia metropolitana) conduziu um elaborado teste de segurança do Palácio de Westminster, chamado de Operação Kiri. Alguns homens, armados, subiram o rio Tâmisa durante a noite e conduziram um ataque simulado contra o palácio. A simulação era tão séria, que ninguém sabia (inclusive os policiais que faziam a guarda do palácio) e receberam ordens de apenas se revelar, se os agentes do Grupo de Proteção Diplomática (braço da polícia metropolitana para fazer a segurança do palácio e dignitários) os identificassem. Ocorreu que ele furaram todas as defesas, INDETECTAVEIS, apenas com informações obtidas em fontes públicas (obrigado Google) e chegaram ao coração do palácio, a Câmara dos Comuns (algo equivalente a Câmara dos Deputados). Reforço: fizeram isto sem serem vistos, parados ou nem mesmo percebidos. Esta simulação mostrou diversas deficiências nas defesas do palácio, que precisavam de uma revisão urgente para proteger o poder político do país contra um ataque terrorista. Foram sugeridos 40 pontos de melhoria para prevenir novas infiltrações, mas quase nada foi feito, apenas trocaram o uniforme dos policiais que guardam o palácio de branco para azul (dificultando a visibilidade no escuro) e uma placa de sinalização que os agentes do CO19 usaram para ajudar a sair do Tâmisa, foi retirada. Basicamente, nada foi feito.

Alguns pontos interessantes que podemos observar:

  • Existia a preocupação com a segurança do palácio e me arrisco a dizer que já existi algum relatório alertando sobre as graves vulnerabilidades na segurança, afinal, executar uma simulação tão real e com altas chances de terminar em tragédia (os guardas dentro do palácio estavam armados e não sabiam da invasão falsa), sem antes ter uma preocupação real, seria imprudente;
  • Mesmo com toda a preocupação em relaçaõ a segurança e sabendo que o país é alvo de ataques terroristas, a segurança do palácio foi mantida com baixa prontidão;
  • Me pergunto como é o estado do CFTV e dos alarmes perimetrais do palácio, será que existem e funcionam?;
  • Os agentes do CO19 conseguiram todas as informações de fontes públicas na internet, inclusive as plantas do palácio;
  • A quantidade de policiais armados, necessários para garantir a segurança 24h do palácio é insuficiente, fazendo com que peguem policiais armados de outros departamentos e áreas. Com isto, tinham policiais inexperientes e que não conheciam a rotina do palácio;
  • Mesmo guardando a entrada principal o palácio, o policial Keith Palmer, foi mantido desarmado, talvez por uma questão de tradição ou o mesmo não tinha treinamento com armas de fogo ainda. O fato é que era uma fragilidade e de acordo com o risco, manter um agente desarmado em face as ameaças que enfrentaria, não era uma opção.

O que podemos aprender com esta história?

Muitas vezes, a solução não esta em ótimos equipamentos táticos, armas novas, CFTV e alarmes de ultima geração, os “melhores profissionais”, se o básico não é feito, como por exemplo, treinamentos de prontidão regulares, revisão dos procedimentos, manutenção dos sistemas de segurança, etc.

O palácio era tido como seguro e provavelmente isto fez com que todos relaxassem (presunção apenas). Não sabemos o que ocorreu ao certo no dia que o CO19 atacou, nem se Keith estava bem no dia que foi morto. Mas lendo o artigo da Daily Mail, me fez lembrar quantas vezes relaxamos e não executamos treinamentos, revisão de procedimentos, testamos o nível de prontidão e fazemos as nossas análises de riscos. Equipamentos caros e profissionais caros ajudam muito, mas como a história já provou por diversas vezes, a vontade, aliada a oportunidade, pode ser muito mais eficaz contra as medidas de segurança, que mesmo caras, não são operadas de forma correta.

Artigo, em inglês: https://www.dailymail.co.uk/news/article-8279171/Why-PC-Keith-Palmer-left-vulnerable-Damning-dossier-provides-disturbing-clues.html

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