A LOGÍSTICA NO PASSADO E HOJE

Publicado em 09 de June de 2020 por Comunicação CCI

Gostaria de aproveitar esta semana de comemoração do dia dos logísticos (6 de junho) e deixar a minha pequena contribuição com esta fundamental área de nossa economia e sociedade!

Muitos já sabem que a origem da logística remonta à grécia antiga e seus logistikas, o seu aparecimento como uma pseudo ciência com Jomini, a sua transformação em ciência com o Tenente Rogers e o Tenente-Coronel Thorpe até a sua transformação, nas mãos do Almirante Eccles, na logística que conhecemos hoje.

Como podem ter visto, a logística, até o final da década de 40, com o fim da 2º Guerra Mundial, tinha um caráter meramente militar, atuando como importante meio de suprir as tropas em campo. Em muitos momentos, principalmente durante a famosa blitzkrieg alemã na Europa, os avanços tinham que ser contidos, pois as divisões panzers (carros de combate e a linha dorsal da nova estratégia alemã) não tinham combustível, munições e peças de reposição para seus blindados, evitando um avanço mais rápido do que já tinham. Um outro exemplo é o Dia D. As praias da Normandia eram rasas e perigosas para os grandes navios de desembarque, o que obrigou os aliados a construírem portos improvisados no meio do canal da mancha para manter a frota de desembarque com combustível, munição e meios necessários para manter a cabeça de ponte. Um último exemplo, mais recente, é a Guerra das Malvinas/Falklands. O planejamento militar para a invasão da ilha não destacou atenção devida na logística da guerra, não mantendo uma cadeia de suprimentos adequada e nem infraestruturas (como a ampliação da pista do aeroporto de Port Stanley/Puerto Argentino) para que as tropas na ilha tivessem condições de aguentar a contra ofensiva britânica. Alguns historiados e estudiosos do tema defendem que se a Argentina tivesse dado mais atenção à logística, talvez os britânicos não tivessem reconquistado as ilhas.


https://velhogeneral.com.br/2019/12/08/acoes-aereas-argentinas-na-guerra-das-malvinas/

Hoje

Com todo o aprendizado adquirido em diversos conflitos e com o boom do crescimento econômico americano no pós-guerra e a Europa sedenta por recursos para a sua reconstrução, podemos ver o uso da logística militar para uso civil.

Hoje, a logística não se limita apenas à sua função militar, mas dita o ritmo de crescimento de um país! Basta observarmos o nosso amado Brasil. Basta uma procura rápida no Google e acharemos diversos artigos evidenciando os inúmeros problemas, alguns exemplos:

  • Falta de diversidade em nossos modais (usamos basicamente o rodoviário, apesar de termos excelentes rios, uma costa generosa e um território para uso amplo de ferrovias);
  • Má conservação de nossas rodovias (que são nosso principal meio de transporte);
  • Demora no desembarque e embarque nos portos;
  • Poucos aeroportos bem estruturados para cargas;
  • Entre outros exemplos que você poderá pesquisar mais a fundo .


http://servicos.dnit.gov.br/dnitcloud/index.php/s/RCtBFGmJxDpiyHE#pdfviewer

No mapa acima, do DNIT (clicando nele voce é levado até o mapa interativo), podemos ver claramente as regiões Sudeste e Sul tem, proeminência nos recursos logísticos do país, com o Norte relegado à poucas rodovias, dependendo fortemente das hidrovias. Mas como isto impacta a nossa sociedade? Primeiramente, por conta dos custos associados à diversos fatores (segurança no transporte, má conservação das rodovias, burocracias, falta de modais adequados, etc) a Ilos estimou que a logística custa 12,7% do PIB do Brasil em 2016, como comparativo, os EUA tinham um custo de 7,8% do PIB (artigo aqui)! Isto tem diversos impactos, tais como:

  • Encarecimento dos produtos, uma vez que transportar no país é caro, sobrando para a sociedade pagar mais caro pela mercadoria, já que é necessário investir mais em recursos humanos, tecnologias, seguros e sistemas de segurança, tudo para garantir que a mercadoria chegue até o consumidor;
  • Baixa competitividade no mercado externo, já que nossas mercadorias são mais caras, demoram mais para chegar no destino e perdemos mais mercadorias por condições de trafegabilidade! Veja, como exemplo, este artigo de 2020, que traz a luz um estudo de 2018 da CONAB e CNPq que chegou a conclusão de que perde-se 1,5% da produção de soja durante o transporte! A principal causa, são as condições das rodovias (veja aqui);

Se formos comparar a logística de hoje com a logística do passado, poderíamos fazer a seguinte comparação:

  • O consumidor final de hoje são as tropas do passado, que consomem toneladas de alimentos e outras mercadorias;
  • O inimigo do passado, hoje é a falta de estrutura nos modais (principalmente o rodoviário), a falta de segurança no transporte e outras ameaças que fazem o custo aumentar e dificultar a logística;
  • A cadeia de suprimentos de hoje pode não ser para ganharmos uma guerra, mas nos ajuda a ganharmos a batalha da inclusão social, agindo na distribuição de riquezas por todo o território nacional. Afinal, não basta que o morador do interior de Roraima tenha dinheiro, ele precisa gozar de uma estrutura logística para gastar o seu dinheiro e receber a sua mercadoria, seja em casa ou comprando em uma loja local.

Futuro

Gosto de pensar que sempre podemos aprender nos momentos de dificuldade e se tem algo que a humanidade sabe fazer de bom é aproveitar estes momentos difíceis para inovar.

Acredito que o futuro da logística já começou e passa, impreterivelmente, pelo e-commerce, com o aumento de armazéns e crossdocking, com diminuição significativa do tamanho das lojas e grandes magazines. Talvez, no futuro, as lojas de rua não sejam mais grandiosas e com tamanhos colossais, como os hipermercados atuais. Acredito que pela mudança do hábito de consumo, elas passaram a terem tamanhos menores, focados no bairro ou região que se situa e os consumidores comprando massivamente pela internet, recebendo diretamente em casa. Os shoppings passaram a ter um papel maior como centro de lazer e não mais como centro de compras, vendo também a diminuição do tamanho das lojas. Um outro talvez, é que os shoppings cedam lugar às galerias, menores e mais aconchegantes.

Impressionante como a logística impacta e transforma os nossos hábitos de consumo! Mais impressionante ainda, são os milhares de profissionais que durante a pandemia, continuaram a separar e embalar as nossas mercadorias, a roteirizar, carregar e descarregar os caminhões, conduzi-los até o destino, monitora-los e rastreá-lo, assegurando-os para que chegassem até o consumidor. Tudo isto, não por uma guerra, mas por um sentimento de necessidade coletiva e de responsabilidade para com os nossos pares!

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